Infelizmente, de alguns anos para cá o pastor Silas deixou de ser essa referência em minha vida, exatamente por eu discordar de suas práticas e, principalmente de seu tom arrogante adotado ao longo dos anos e de sua infundada teologia da prosperidade.
Ainda assim, eu continuo admirando o Pastor Silas Malafaia pelo seu arrojo e sua coragem, seu desprendimento e visão empresarial. Não tenho absolutamente nada contra o seu patrimônio, afinal de contas ele tem seus méritos como empresário à frente da Editora Central Gospel. Além do mais, continua sendo um dos melhores pregadores que conheço. Possui o dom da palavra, e isso não podemos negar, o cara é um exímio palestrante.
E era exatamente nisso que eu depositava minhas fichas quando tomei conhecimento da sua entrevista no programa De Frente com Gabi, pelo SBT. "Chegou a nossa grande oportunidade", pensei. Afinal, quando eu me converti em 1995, um pastor evangélico sendo entrevistado num programa top como o da Marília Gabriela seria impensável. Apesar de todo espaço midiático que algumas, eu disse algumas, igrejas possuem em algumas emissoras, a entrevista do Pastor Silas no De Frente Com Gabi representaria mais do que uma rara oportunidade; seria um divisor de águas na visão de muita gente num país marcado por grande preconceito, corrupção e desigualdade. Seria uma oportunidade única de apresentar uma igreja evangélica diferente do que muitos pensam. Seria...
Assim que iniciou a entrevista, comecei a mergulhar em decepção já no primeiro bloco, quando o assunto tratado foi justamente a polêmica envolvendo o patrimônio do Pastor Silas revelado pela revista Forbes. Silas Malafaia perde a primeira oportunidade não apenas de calar seus críticos mais vorazes, mas, principalmente de desmistificar essa polêmica a respeito de dízimos e ofertas.
Ele bem que se esforçou. Trouxe declaração de bens, tentou dar base bíblica para essa teologia da prosperidade que ele tanto prega. Acabou se enrolando e municiando ainda mais a apresentadora, que também não é nenhuma despreparada. Silas Malafaia perdeu minutos preciosos da entrevista tentando justificar o injustificável, quando ele poderia ter sido, digamos assim, curto e grosso: "Sou bem sucedido sim, e daí?" - afinal de contas quantos empresários bem sucedidos e milionários temos em nosso país? Porque um pastor não pode ser bem sucedido? Se o Abílio Diniz se convertesse e viesse a se tornar pastor, teria ele que se desfazer de sua fortuna?
"Mas uma grande parte do seu patrimônio foi conquistada com os dízimos e ofertas dos fiéis", teria argumentado a apresentadora. Com a sua esperteza, não seria difícil para Silas se desviar dessa polêmica e enveredar pela Palavra de Deus, assumindo totalmente o controle da entrevista. Malafaia até citou a Bíblia, tentou fundamentar que Deus trabalha em forma de recompensas e tal, enfim, acabou se enrolando ainda mais e sendo colocado contra a parede pela entrevistadora.
Quando o assunto foi homossexualidade então, misericórdia. O lado positivo é que Malafaia manteve-se firme em suas convicções e no que diz respeito ao pecado. Nisso, todos nós concordamos. Mas ele não conseguiu se desvencilhar dos comentários arrogantes e preconceituosos da apresentadora, cujo objetivo não era outro senão polemizar e desmoralizar seu entrevistado por meio de uma atitude tendenciosa e imprópria para uma jornalista. Mas isso é característica própria dessa apresentadora que sempre se achou dona da verdade.
Que pena, Silas Malafaia. Quantos de nós esperávamos que você, através da Palavra de Deus que você manuseia tão bem, tivesse colocado essa mulher em seu devido lugar.
Que pena que você tenha perdido tão grande oportunidade de falar de salvação, do amor de Jesus e do processo restaurador e transformador da igreja evangélica no Brasil. Afinal de contas, no momento em que você sentou-se nessa cadeira para conceder essa entrevista, naturalmente você se colocou como representante de milhares de evangélicos espalhados por esse imenso Brasil.
Que pena pastor Silas Malafaia. Que oportunidade histórica você perdeu de falar da maravilhosa graça redentora de Jesus, do seu sangue derramado lá na cruz. Ao invés disso, você optou por igualar o tom arrogante da apresentadora ao lançar mão de um discurso reacionário que em nada contribui para atrair as pessoas para Cristo.
Pior do que tudo foi ter que ouvir no final, aquela voz entojante dizer: "Que o meu (Deus) não sei se é o mesmo que o seu, te perdoe!". Aí foi demais para mim. Doeu. Confesso que fui dormir com um sabor amargo de derrota na boca.
Por Valcir Grossi - evangélico, servo do Deus vivo, conferencista e escritor.
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